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Cinco campeões mundiais, uma vice e dois terceiros lugares. O Brasil pode continuar a ser considerado o país do parasurf, depois de mais uma participação vencedora no Campeonato Mundial de Parasurf da ISA, realizado no último fim de semana em Huntington Beach, na Califórnia. A participação brasileira teve apoio do Ministério do Esporte, que viabilizou a ida de toda a delegação, a partir de Termo de Fomento celebrado com a CBSurf. “Foi incrível a participação dos nossos atletas. A Secretaria Nacional de Paradeporto do Ministério do Esporte [SNPAR] busca priorizar apoio às modalidades não-paralímpicas, como é o caso do parasurf, que carecem de maior visibilidade, e que por isso não atraem muitos patrocínios”, explicou o secretário nacional de Paradesporto, Fábio Araújo. “Estamos orgulhosos em ver novos ídolos do esporte surgindo, e outros se firmando para motivar que mais pessoas comecem a praticar esportes”, comentou. Entre os homens, o Brasil conquistou cinco títulos das nove categorias em disputa, e por muito pouco a sexta medalha de ouro não veio. Na categoria cegos, o bicampeão Figue Diel (PS VI1) era o favorito para a conquista do tri, liderando com sobras todas as baterias, até que foi punido por cometer interferência ao entrar em uma onda quando seu adversário estava com a prioridade. “A regra foi interpretada de forma correta, mas é uma regra para videntes. Meu guia não errou ao me colocar na onda porque eu estava muito distante do surfista alemão, o que gerou até um debate sobre a necessidade de adaptação da regra. Com a nota da minha primeira onda cancelada, só valeu a nota da segunda, e acabei em terceiro lugar”, explicou Diel, atleta que impressiona por, mesmo sem enxergar, ter desenvolvido a capacidade de perceber a pressão dos movimentos de sobe e desce do mar sob a prancha para identificar a chegada de uma boa onda. Ele disse estar motivado para continuar os treinos e tentar o tricampeonato ano que vem. Medalhas e vontade de vencer Entre as cinco medalhas de ouro do Brasil, uma reluziu pela primeira vez no peito de um novo campeão: Dijackson ‘Gato de Botas’ (PS S3), e novamente no peito de três surfistas que defendiam o título e confirmaram a hegemonia nas suas categorias: Rafael Lueders (PS-S2), Davizinho Radical (PS Prone 2), o hexacampeonato de Fellipe “Kizu” Lima (PS-Sit), igualando o recorde de títulos do dinamarquês, Bruno Hansen, estabelecido em 2021. Outro destaque foi a participação arrasadora de Roberto Pino (PS-S1) nas semifinais com dupla nota dez, estabelecendo a primeira bateria perfeita (20 pts) da história do parasurf mundial. Em seguida, ele conquistou o título, marcando 17 pontos de 20 possíveis na final. Além de Figue Diel, o outro terceiro lugar foi de Malu Mendes (PS S2). Ela é um exemplo de que o nível do parasurf brasileiro está tão alto, que a medalha de bronze não satisfez a sua vontade de vencer. “O terceiro lugar é muito bom, mas não fiz um bom campeonato. Não consegui mostrar o meu surf”, lamentou a surfista que tem aspirações evoluídas acima da mera participação, já que acabara de conquistar o título do Circuito Mundial de Parasurf, em setembro. O time brasileiro feminino contou ainda com Tiana Dantas (PS-S1) e Monique Oliveira (PS Prone 2), que não se classificaram para as fases finais. O ‘corre’ da melhor brasileira em Huntington Estreante em mundiais, Vera Aguilar Quaresma (PS-Joelho) completou as conquistas brasileiras com a melhor colocação entre as mulheres. Quem vê a medalha no peito não faz ideia das dificuldades que Vera precisou superar do período de cerca um mês e meio entre a classificação para o Mundial, adquirida em Cabedelo, na Paraíba, até a chegada a Huntington Beach. Além do clima em Santa Catarina, que ora atrapalhava, ora impedia treinos com muita chuva, frio e até um tornado, Vera precisava de equipamentos básicos como roupa adequada para as geladas águas californianas e uma prancha especial para o kneeboard, o surf de joelhos, já que usava prancha comum. “Eu só tinha uma roupa de borracha velha, que não era vedada. Entrei em contato com algumas empresas, mas não consegui nada, até que um amigo, João Lanças, que tem loja de surf, conseguiu materiais a preço de custo, dos quais fiz uma rifa que me permitiu pagar pela roupa”, explicou. A prancha chegou diretamente do Guarujá, litoral paulista, às mãos de Vera, a apenas três dias do seu embarque para os Estados Unidos, feita pelo amigo shaper “Rafinha”, para que Vera pagou somente o material. Outro apoio importante veio do professor Josué Rezende, na forma de treinos diários com o grupo de sua escolinha de surf, no auxílio para levar equipamentos até a água e na orientação entre fazer freesurf e estar em um campeonato com pouco tempo para realizar manobras. Um exemplo de por que se considera que competir no alto rendimento é praticamente um esporte coletivo. Parasurf: lutas e perspectivas O presidente da Confederação Brasileira de Surf (CBSurf), Flávio ‘Teco’ Padaratz, comemorou a campanha da equipe brasileira que superou a do Mundial de 2022 com uma medalha de bronze a mais, mostrou-se unida e sobretudo barulhenta, quando um brasileiro estava na água. “Acho que temos que olhar para essa participação do Brasil de forma ‘energética’, de carisma, porque o que aconteceu nesse mundial na Califórnia é que o Brasil parou o campeonato, simplesmente chamou mais atenção do que qualquer outra equipe”, explicou Teco. Ele lembrou ainda o esforço da CBSurf na organização dos campeonatos, bem como a dupla superação de cada atleta que, diante das suas características físicas, continuam treinando e se esforçando para participando de competições. “A gente ainda não consegue desenvolver a contento o Parasurf no Brasil por não haver amparo pela lei, do Comitê Paralímpico Internacional (IPC) e Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Daí temos que buscar verbas extraordinárias, em que temos que destacar este ano o apoio do Ministério do Esporte, que não fez vista grossa, olhou para o parasurf com carinho e reconheceu o potencial da nossa equipe que foi lá, e brilhou”, avaliou o presidente, sobre os recursos que garantiram a ida dos 14 atletas e de toda a delegação para a Califórnia. Vencendo em quase todas as categorias que disputou, de acordo com Padaratz, a surpresa geral foi o Brasil ficar apenas com o bronze por equipes. Entre os motivos, ele atribui a falta de mulheres nas categorias femininas, já que o Brasil disputou apenas quatro das nove existentes na competição. “Se conseguirmos desenvolver um bom circuito nacional, vamos poder revelar muitos garotos, mas também as garotas, que estão em casa achando que o surf não é pra elas. Sentimos no Ministério do Esporte um interesse muito grande em dar suporte ao parasurf, reconhecendo-o como é de fato: um grande ato entre os esportes pela inclusão, pelo social e principalmente pela perspectiva de mais medalhas paralímpicas”, reiterou. O evento também serviu para COI e organizadores das Olimpíadas de Los Angeles 2028 avaliarem se a modalidade se enquadra no programa paralímpico, bem como quais as categorias entrariam na disputa. O Ministério do Esporte estabelece entre as prioridades para incentivar projetos a promoção e o incentivo à pratica de esporte pelas mulheres. Em perspectiva, caso o COI integre o parasurf ao programa paralímpico, a modalidade passará automaticamente a ser contemplada pelo programa Bolsa Atleta do Governo Federal. Em 2022, a CBSurf chegou a criar campanha de arrecadação de pessoas físicas e jurídicas para levantar custos referentes a hospedagem, alimentação, inscrições, seguros de viagem e traslados para levar toda a delegação que fez campeões e campeãs mundiais em cinco das nove categorias disputadas. Em 2023, com o Termo de Fomento do MEsp, a CBSurf e os 14 surfistas tiveram mais tranquilidade para representar e, mais uma vez, encher o Brasil de orgulho. Conheça as classes do parasurf certificadas pela ISA: Stand 1 (PS-S1): qualquer surfista stand-up com amputação de membro superior ou deficiência comparável. Esta aula inclui também aquele surfista com estatura reduzida. Stand 2 (PS-S2): qualquer surfista de stand-up com amputação abaixo do joelho ou deficiência comparável. Stand 3 (PS-S3): qualquer surfista de stand-up com amputação acima do joelho ou deficiência comparável. Prone 1 (PS-P1): qualquer atleta que surfe deitado na prancha e não necessite de ajuda/auxílio para remar, pegar a onda e subir na prancha. Prone 2 (PS-P2): qualquer atleta que surfa deitado na prancha e PRECISA de ajuda para remar, pegar a onda e subir na prancha. Joelho (PS-K): qualquer surfista que surfe de joelhos com amputação acima do joelho, amputação dupla abaixo do joelho ou deficiência comparável. Sit/Waveski (PS-Sit): qualquer surfista que surfe sit-up com remo e não necessite de assistência. Deficiência Visual 2 (PS-VI2): qualquer surfista com deficiência visual. Assessoria de Comunicação – Ministério do Esporte